Como herança da escravidão, ao longo do tempo o corpo da mulher negra foi utilizado como objeto de cuidado de outros, sem que se reconhecesse a importância de cuidar também de si mesmas.
A questão do autocuidado da mulher negra entrelaça-se com a história de invisibilidade e marginalização enfrentada por elas. Pode-se incluir no pacote a falta de políticas de saúde específicas para mulheres negras como reflexo de uma sociedade que historicamente desconsidera suas necessidades.
No mercado da beleza, essa invisibilidade é ainda mais evidente. A indústria de cosméticos, por muito tempo, ignorou as necessidades específicas da pele e do cabelo das mulheres negras, comercializando somente produtos voltados para o padrão eurocêntrico de beleza.
Lembremos também de outro mercado – o de trabalho – que cunhou a expressão “boa aparência”, que na prática significava ter que alisar o cabelo para conseguir um emprego. Lutar pela sobrevivência forçou muitas mulheres negras a se adequar a padrões eurocêntricos, recorrendo a práticas como o alisamento do cabelo para serem aceitas no mercado de trabalho e pela sociedade em geral.
No entanto, um movimento de resgate das raízes ancestrais tem ganhado força. Inspiradas nas tradições africanas, mulheres negras têm redescoberto rituais de autocuidado que valorizam suas características naturais. Banhos de ervas, óleos naturais e outras práticas tradicionais não só promovem o bem-estar físico, mas também fortalecem a autoestima e a conexão com suas raízes culturais.
Esse resgate não só tem um impacto positivo na vida das mulheres negras, mas também está provocando mudanças no mercado de cosméticos. As empresas estão começando a perceber a necessidade de criar produtos específicos que atendam às demandas do público negro. Isso é resultado do ativismo crescente, onde as mulheres negras estão se tornando protagonistas das pautas sociais, lutando por representatividade e inclusão.
O ativismo e o autocuidado andam de mãos dadas. Ao mesmo tempo em que lutam por direitos e igualdade, as mulheres negras também estão olhando para suas próprias necessidades, integrando o físico e o emocional. Esse equilíbrio é essencial para fortalecer a individualidade e a coletividade, promovendo uma mudança sistêmica que beneficia a todos.
O autocuidado da mulher negra, portanto, vai além do simples ato de cuidar do corpo. É uma forma de resistência, de reafirmação de identidade e de construção de um futuro onde todas as mulheres possam ser valorizadas e respeitadas em sua totalidade.